Elas entram e ficam!
Tânia Dinis, TEP
Os arquivos reúnem, preservam, organizam documentação que nos mostram acontecimentos do passado. Constituem fontes de conhecimento que nos dão a conhecer factos supostamente verdadeiros, principalmente quando o suporte fotográfico funciona como veículo da memória. O arquivo é memória e esta, potencia, informa e altera a realidade presente. A fotografia fixa um momento, constrói identidades, constitui uma micro-história, mas não nos relata tudo. A memória é facto e também pode ser considerada testemunho de um passado, transmissora de uma história. Fotografia e memória ligam-se pela sua capacidade de acontecimento passado, permitindo relembrar, fazendo uma deslocação do momento original no tempo e no espaço. Para o 70º aniversário do Teatro Experimental do Porto, desdobramo-nos sobre o que poderá ser o arquivo, a documentação, de uma política cultural de uma companhia de teatro, e a sua relação socioeconómica. Elas entram e ficam!, tem como ponto de partida os textos, peças e o arquivo fotográfico dos registos dos espetáculos da companhia ao longo dos 70 anos. Uma viagem que vai traçar uma linha temporal, permitindo descobrir quantas personagens femininas encontramos nos textos. Quantas personagens femininas foram representadas, que atrizes as interpretaram. Quantas personagens se repetiram, quantas sobreviveram. Quantas resistiram. Quantas foram eliminadas das suas marcações. Quantas viram as suas deixas apagadas. Quantas gritaram por vitória. Uma nova personagem feminina entra em palco e carrega todas as outras. Uma a uma. Elas entram e ficam em cena.
Ela as manipula em tempo real, construindo uma nova história. Ensaios de sobreposição, criando novos quadros de imagem, personagens que confrontam o público, se movimentam, se sobrepõem, como que não quisessem sair do plano, onde se resgata um tempo que passou, o tempo em que a peça foi escrita, o tempo da história da peça, o tempo em que foi representada, mas é também, hoje, um tempo que ainda nos pertence, onde se leva o tempo que for necessário, para a sua visualização, nada condizente ao nosso tempo de hoje, veloz no nosso mundo globalizado e pós-moderno. O espaço cénico é transformado num álbum de fotografias, tridimensional em grande dimensão, inspirado na técnica e mecanismo dos livros pop-up. A imagem fotográfica participa de um teatro na existência de um argumento e protagonista, não só na voz da narração, mas em todos as outras personagens que se apresentam, representam e expõem no retrato fotográfico, também ele encenado e dirigido, numa estrutura que manipula o tempo e ritmo.
- Criação: Tânia Dinis
- Interpretação: Tânia Dinis
- Imagens: Tânia Dinis
- Pesquisa de dramaturgia: Pedro Bastos e Tânia Dinis, TEP
- Pesquisa e composições visuais: Tânia Dinis
- Texto: Pedro Bastos
- Música e Espaço Sonoro: Jorge Quintela
- Cenário: Catarina Barros (espaço cenográfico)
- Luz: Cárin Geada
- Movimento: Ángela Diaz Quintela (composição de imagem)
- Vídeo e composição de imagem: Bianca Turner
- Técnico de imagem fotográfica: Bernardo Sousa Santos
- Produção: Teatro Experimental do Porto
- Desenho e operação de som: Mariana Leite Soares
- Agradecimentos: Tales Frey, Joana Caetano, Nuno Preto, Joaquim Dinis, Júlio Gago, Márcia Breia, CRL - Central Elétrica, Pedro Vilela